Campus de Cornélio Procópio
Cornélio Procópio, 25 de janeiro de 2022
Homenagem: O voo do João de Barros e seus companheiros
A epopeia brasileira do hidroavião Jahu

Em 28 de abril de 1927, brasileiros entravam para a história ao serem os primeiros americanos a atravessar o Oceano Atlântico dispondo de apenas uma aeronave, o hidroavião bimotor "Jahu". Este ano comemoramos 95 anos da épica façanha.

O comandante João Ribeiro de Barros, um nome pouquíssimo mencionado nos livros de história, foi, no entanto, um dos pioneiros da aviação no Brasil. O jovem de família abastada de Jaú, SP, aos 27 anos tornou-se celebridade, como o primeiro piloto das Américas que comandou a travessia aérea do Oceano Atlântico sem ajuda de navios.

A travessia dos portugueses Gago Coutinho e Sacadura Cabral, em 1922, por ocasião das comemorações do centenário da independência do Brasil, inflamou a imaginação do jovem aviador. Atento às tentativas de cruzar o Atlântico, Ribeiro de Barros seguiu para Nova Iorque e estudou o assunto com seu amigo e mentor, Gago Coutinho. Decidiu-se pela aquisição de um hidroavião italiano Savoia-Marchetti modelo S-55, de madeira, com mais de quatro toneladas, uma aeronave de aparência curiosa, com dois flutuadores gêmeos, fabricado pela Società Idrovolanti Alta Itália (SIAI). Sem apoio financeiro do governo ou de empresas privadas, o comandante vendeu sua parte na herança paterna para comprar o avião.

O fabricante, não querendo ou não podendo ceder a um desconhecido uma aeronave nova, propõs ao aviador brasileiro a venda do "Alcyone", um hidroavião do modelo pretendido por Barros. O conde italiano Casagrande o adquirira por sua conta e com apoio do governo italiano para fazer a travessia do Atlântico Sul. Em sua tentativa, em 1925, percorreu cerca de um quinto do caminho entre a Itália e a Argentina, mas dificuldades com a hidrodinâmica fizeram-no abortar a travessia em Casablanca, no Marrocos francês. O certificado de posse do "Alcyone" retornou ao fabricante, mas o aeroplano lá ficou.

Barros aceitou, mas com a condição da troca dos motores originais por dois "Isotta Fraschini Asso 500", com 550 HP de potência cada, e a troca dos flutuadores ineficientes por duas unidades de proa alta e melhor hidrodinâmica, a serem realizada pelo fabricante.

João Ribeiro de Barros impressionou o pessoal da SIAI com sua habilidade em pilotar o pesado hidroavião. Mas a fábrica entregou o aparelho apenas pintado, alegando estar reformado. Ao fazer o vôo de testes, quase afundou ao tocar as águas do Lago Mayor, em Sesto Calende, porque a parte inferior dos flutuadores estava podre, devido à longa permanência semi-afundado em Casablanca.

Depois de muitas discussões, conseguiram que a fábrica trocasse os flutuadores por novos, ficando assim semelhantes ao do tipo militar com proa alçada e melhor hidrodinâmica e foi rebatizado de "Jahu" (na ortografia da época). Barros escreveu no flutuador da direita "Vou alí", e no da esquerda, "Já volto".

Em 18 de outubro de 1926, depois da modificação idealizada pelo jauense, o hidroavião começava oficialmente a travessia a partir de Gênova, na Itália. Além do piloto, faziam parte da equipe seu amigo, o mecânico Vasco Cinquini, o copiloto Tenente do Exército Arthur Fernandes da Cunha, e o navegador Capitão e professor na Escola de Aviação Militar Newton Braga.

Horas depois, porém, na altura do Golfo de Valência, na Espanha, os motores começaram a falhar devido a um problema na alimentação de gasolina e forçaram o grupo a descer em Alicante, no Mediterrâneo espanhol. Como o pouso não estava previsto, as autoridades espanholas detiveram os tripulantes, que só foram liberados com a intervenção da Embaixada do Brasil em Madri.

Partem para Gibraltar, no sul da Espanha, no dia seguinte, 19, com Cinquini operando a bomba manual de alimentação de combustível, e percebem que ainda há algo errado. Ao chegarem, fazem uma vistoria e descobrem a sabotagem: havia sabão caseiro, terra e água no reservatório de combustível do avião.

Após limpeza dos tanques, o Jahu decolou

"Asas do Jahu" foi lançada em julho de 1927, em gravação elétrica de Francisco Alves no selo Odeon. Marcelo Tupinambá estava em Jaú quando recebeu a notícia da chegada do hidroavião. Então pediu ao poeta Otacílio Gomes, nascido na cidade, versos em homenagem a esse feito. Musicou a letra e foi para São Paulo, sendo a composição entregue ao maestro Gaó, na Ed. Campassi & Camin. (Texto de Samuel Machado Filho)

Simulação da decolagem; observe-se que os tripulantes ficavam no meio da asa e nos flutuadores (Arte sobre foto de JCMA / Revista Apartes) O Alcione, do conde italiano Eugênio Casagrande, caiu em Casablanca, no Marrocos, em 1925
O hidroavião Jahu, com a estrutura física e a tripulação com que efetuou a perigosa travessia do Atlântico (foto após a chegada em Santos) Chegada do Jahu a Santos, com entusiática recepção marítima pelos santistas
Autoridades santistas foram receber os tripulantes do Jahu, entre eles, o Ten. João Negrão, militar da Força Pública de São Paulo Capitão Newton Braga, Comandante João Ribeiro de Barros e Tenente João Negrão recepcionados em Santos
Missa na Praça da Sé, com a matriz ainda em obras, em agosto de 1928, com réplica do Jahu sobre a construção Brevê internacional, com validade até dezembro de 1929 Trajeto percorrido pelo Jahu, de Gênova a São Paulo
A tripulação original do Jahu, Cap. Newton Braga, Vasco Cinquini, Ten. Arthur Cunha e Comandante João Ribeiro de Barros Entre as homenagens recebidas, a composição de Zequinha de Abreu "Asas Brasileiras" Partitura com a letra de "Asas Brasileiras", escrita por Salvador J. de Moraes
João Ribeiro de Barros, por volta de 1926 e 1936 Homenagem da cidade de Jahu a seu distinto filho (Foto: Paulo César Grange / Prefeitura de Jaú)

rumo às ilhas Canárias, no domingo, 25 de outubro. O motor traseiro voltou a ratear. Apesar disso, o Jahu fez o percurso até Las Palmas de Gran Canaria em 7 horas e 15 minutos, batendo o recorde de Gago Coutinho e Sacadura Cabral. A causa da nova avaria foi uma engrenagem desgastada na bomba de alimentação, que teve que ser substituída por outra, usinada artesanalmente na ilha.

Decolam de Las Palmas e, após pouco mais de nove horas de voo, amerissam na cidade de Praia, na ilha Santiago, no arquipélago africano de Cabo Verde. Mas ocorre um pequeno acidente quando traziam o Jahu para terra para reparos e danificam um dos flutuadores, necessitando conserto especializado.

Na África, Barros contraiu malária. Surgem rumores de que João de Barros desistiria. Deprimido, após quatro acessos de malária e com o avião avariado, ele consultou sua mãe, Dona Margarida, que respondeu com telegrama emocionado:

"…Providenciaremos continuação do reide custe o que custar. Paralisação reide será fracasso. Asas avião representam bandeira brasileira…"

Por grave desentendimentocom o copiloto Arthur Cunha, viu-se obrigado a substitui-lo. A convite de sua família, apresentou-se o tenente João Negrão, da Força Pública do Estado de S. Paulo que voou para Cabo Verde. Com sua chegada, efetuou-se revisão total do hidroavião, que havia ficado ao relento durante mais de 5 meses. Ao desmontarem os motores, descobrem outra sabotagem: um pedaço de bronze deixado solto no cárter que só não destruiu o motor, devido a ser grande, e permanecendo no fundo do equipamento.

Finalmente, em 28 de abril de 1927, com o avião refeito, os dedicados tripulantes voam em 12 horas, a uma velocidade recorde de 190 km/h, os 2,4 mil quilômetros entre Cabo Verde e o arquipélago vulcânico de Fernando de Noronha, primeira parada no Brasil. Mas fazem um pouso de emergência em pleno Atlântico, devido à hélice posterior estar partida. Um cargueiro italiano que ia para a Europa, mudou de rumo e rebocou o Jahu durante doze horas, até a baía de Santo Antônio, em Fernando de Noronha.

O país explodiu em comemorações, com acolhidas festivas aos aviadores. De maio a agosto, o Jahu ainda fez escalas em Natal, Recife, Salvador, Rio de Janeiro e Santos, antes do pouso final em Santo Amaro, onde atualmente é a Represa Guarapiranga, na cidade de São Paulo, em 1º de agosto.

Fontes:
Revista Apartes,
da Câmara Municipal de S. Paulo

Portal Piloto Policial
Wikipédia: Jahú (hidroavião)

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