Maria Leopoldina da Áustria, nascida Leopoldine Caroline Josepha von Habsburg-Lothringen, em Viena, a 22 de janeiro de 1797, foi arquiduquesa da Áustria, primeira esposa do imperador D. Pedro I. Era filha do imperador Francisco I, da Áustria, e de sua segunda esposa, a princesa Maria Teresa de Nápoles e Sícilia. Foi cunhada do imperador Napoleão Bonaparte, casado com sua irmã mais velha, Maria Luísa. Seu casamento com Pedro I e a proclamação da independência do Brasil fizeram com que se tornasse a primeira Imperatriz Consorte do Império do Brasil, de 1822 até sua morte, e a primeira imperatriz do Novo Mundo.
A vida da princesa Leopoldina não foi fácil, mas era uma mulhar de fibra, muito bem preparada, de nível cultural superior e com formação política muito consistente. É tida por grandes estudiosos como a principal articuladora do processo de Independência do Brasil.
Sua morte, como resultado da violência do marido, D. Pedro I, ocorreu em 11 de dezembro de 1826. Assis Cintra expõe seu desenlace numa narrativa detalhada e muito sensível.
Agonia de mãe
Em princípio de novembro de 1826, D. Leopoldina, imperatriz do Brasil, adoeceu. Não encontrando melhoras com o seu médico habitual, recorreu ao cirurgião-mor da Corte, conselheiro Domingos Ribeiro dos Guimarães Peixoto. A imperatriz teve delivramento prematuro, cujas consequências lhe determinaram a morte, dias depois. O "Diário Fluminense" de 4 de dezembro de 1826, assim se expressava:
Como se vê, era geral a consternação. O mesmo "Diário Fluminense" dizia ao público:
"Enquanto durar o muito sentido estado de incômodo de S. M. a Imperatriz e continuarem as preces pela sua preciosa saúde, não haverá espetáculos nesta cidade."
Três médicos revezavam-se à cabeceira da Imperial enferma: eram eles os Drs. Jerônimo Alves de Moura, Domingos Ribeiro dos Guimarães Peixoto e Vicente Navarro de Andrada (barão de Inhomirim).
O povo ia sendo avisado do estado da imperatriz, em boletins diários.
No 7º boletim, às 6 horas da tarde, o chefe do corpo clínico informava:
"Sua Majestade não tem passado melhor; têm continuado todos os sintomas do mesmo modo que de manhã e como o estado do cérebro e dos nervos, cujas funções aparecem, hoje, mais perturbadas, exigisse uma atenção particular, resolveu-se na conferência que se fez às 11 horas, juntar ao uso dos remédios, em que se achava, cânfora, éter, um vesicatório na nuca e sinapismos, e substituiu-se o vinho quinado à água de Inglaterra. Esperamos pelos efeitos desta modificação no tratamento para se decidir na conferência que há de haver pelas 8 horas, se convém mais alteração - Barão de Inhomirim."
Entretanto a imperial doente piorava. No 15º boletim, explicava o médico:
"Sua Majestade continua a passar mal e como tivesse pelas 11 horas desta manhã um arrefecimento considerável nas extremidades, administrou-lhe o Excelentíssimo e Reverendíssimo Bispo Capelão-Mor a extrema-unção; presentemente cessou qualquer arrefecimento e acha-se S. M. do mesmo modo e com a mesma gravidade de
moléstia que se publicou nos boletins anteriores. - Barão de Inhomirim."
No dia seguinte, 11 de dezembro de 1826, às 10 horas da manhã, informava o médico:
"S. M. a Imperatriz tem passado pior; as suas forças vão desaparecendo e tudo quanto faz parte da sua enfermidade tem piorado. Tem-se posto em prática tudo quanto se podia aplicar interna e externamente e não há recurso que não se tenha tentado, por deliberação das conferências feitas de manhã e de tarde. S. M. ainda vive e as diligências ainda continuam, mas o seu estado é para desanimar. - Barão de Inhomirim."
Finalmente, às 10 horas e um quarto, desse mesmo dia 11, surgia a notícia lutuosa no seguinte boletim:
"Pela maior das desgraças se faz público que a enfermidade de S. M. a Imperatriz resistiu a todas as diligências médicas, empregadas com todo o cuidado por todos os médicos da Imperial Câmara. Foi Deus servido chamá-la a si pelas 10 horas e um quarto. - Barão de Inhomirim."
Quando se soube que o estado de saúde de Leopoldina era desesperador, todas as suas amigas, diante do Santíssimo, exposto na capela do Paço, iniciaram a oração dos agonizantes. Após a prece fervorosa, uma das senhoras presentes, a marquesa de Aguiar, confidente da Imperatriz, foi ao quarto da imperial amiga. E aí se manteve até o desenlace.
Pálida e ofegante, D. Leopoldina apertou a mão da amiga, dizendo-lhe, com as lágrimas nos olhos, que ia partir da terra para uma vida melhor, pois estava certa de que Deus a acolheria, porque sofrera muito neste mundo...
Um tremor convulsivo da doente provocava nos alvos lençóis de cambraia ondulações suaves, lembrando o dorso duma torrente do vale quando a brisa a beija nas manhãs de maio.
Elisa Rohan, a pedido da Imperatriz, retirou do pequeno oratório doirado a imagem de Nossa Senhora das Dores. E a moribunda. Nos últimos instantes da sua vida de santa, apertou, bem perto do seu nobre coração, aquela efígie sagrada de mãe que tanto soube amar e sofrer, como em geral sofrem e amam as mulheres que são mães. Depois, fixou com seus olhos azuis, que se iam apagando na vitralização da morte, a amiga predileta, marquesa de Aguiar. Duas lágrimas sulcaram lentamente em sua face desmaiada, e suavemente seus olhos se voltaram para a imagem de Maria santíssima. Beijou-a, com muita devoção e num balbuciar que mais se assemelhava a um gemido de dor, proferiu suas últimas palavras, colhidas pela amiga e pelo capelão:
– "Mãe do Céu, protegei meus filhinhos, meu marido e o Brasil..."
E assim morreu a primeira Imperatriz da Terra de Santa Cruz, pensando no marido querido, nos filhinhos adorados, e no Brasil, pátria que também se tornara sua, pelo coração e pelo amor...