Campus de Cornélio Procópio
Cornélio Procópio, 25 de maio de 2022
A Biblioteca Digital disponibiliza vários livros para download grátis
Atualmente, são 20 títulos à disposição

Para atender a uma de suas funções sociais, a UENP disponibiliza vários livros — alguns de suas próprias produções científicas, outras de cunho literário nacional — para download gratuito, desse modo possibilitando o acesso a obras valiosas para todo o público leitor, sem distinção de nível econômico.

Os títulos são bastante abrangentes, mas procuram despertar o interesse do leitor nas áreas educativa, literária, histórica e documental. A partir desta edição de Notícias da UENP-CCP, destacaremos todo mês uma das obras, ressaltando seus aspectos mais ilustrativos ou interessantes.

O livro em destaque de maio

O destaque do mês é o livro que ocupa a 4ª posição entre os mais baixados de nossa Estante Digital, com 4.480 downloads. É a ótima obra escrita pelo saudoso professor Ramez Kalluf: Porto do Destino. Ramez foi professor e secretário acadêmico da antiga Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Cornélio Procópio, além de ser ter sido advogado, formado em Direito pela Universidade Federal do Paraná.

Porto do Destino, de Ramez Kalluf (Capa: Aquarela de Tony Westmore, 2005)

Cap Arcona, numa linda aquarela do pintor Tony Westmore, é o belo transatlântico (afundado durante a 2ª Guerra Mundial) que trouxe o pai do autor para o Brasil, e é, também, o título do conto que abre o volume.

O livro é uma compilação de diversos contos e ensaios escritos ao longo dos anos. Mas vamos deixar que a professora Dra. Marilu Martens Oliveira nos faça uma breve apresentação:

"O Prof. Rames Kalluf nos incita a viajar por 27 textos que, surpreendentes e ricos, nos encantam a cada linha, a cada parágrafo [...] É esse olhar que desvenda realidades, mostra-se perplexo, realiza digressões espirituosas, profundas, sentimentais, melancólicas, filosóficas, ensinando-nos não só a VER, mas a OLHAR 'aquilo que os que lá estão não podem perceber', pois nosso olhar acostuma-se à paisagem."

A seguir, uma amostra desse cardápio excepcional que nos apresenta o Prof. Ramez Kalluf... Então, 'bora lá!... e boa leitura!

P.S.: Este livro está disponível para download gratuito aqui, na Estante Digital da UENP.

O riso e o siso

Há alguns anos, um jovem estadunidense residiu entre nós, enquanto beneficiário de um sistema de intercâmbio internacional mantido por determinado clube de serviço. Culto, inteligente, dono de ampla visão de mundo, facilmente integrou-se à comunidade, na qual cultivou sólidas amizades, tendo desfrutado a admiração e o respeito daqueles que com ele privaram ou apenas o conheceram. Uma peculiaridade de seu caráter marcou profundamente os colegas, quando, assistindo a uma série das chamadas videocassetadas, que, então, começavam a povoar as telinhas. Enquanto os demais riam às bandeiras despregadas, o rapaz de quem se está tratando mantinha-se impassível, circunspecto, talvez curioso, mas se recusando a partilhar da mesma inexplicável alegria. Cobrado pelos amigos sobre o estranho procedimento, ele manifestou sua incapacidade para entender os motivos das gargalhadas, já que as cenas tinham tudo de trágico e nada de cômico.

Recentemente, circulou na rede — que, como todos os demais meios, acolhe muito esterco e pouquíssimas pérolas — um produto atribuído a importante cronista nacional, cujo nome será omitido para não deslustrá-lo, no caso de o material ser apócrifo. O título do trabalho é nada melhor que isto: "A idiotice é vital para a felicidade", e contém ideias desprovidas de bom senso como: "Deixe a seriedade para as horas em que ela é inevitável: mortes, separações, dores e afins. No dia-a-dia, pelo amor de Deus, seja idiota! Ria dos próprios defeitos". Ou esta: "Milhares de casamentos acabaram-se, não pela falta de amor, dinheiro, sexo, sincronia, mas pela ausência de idiotice".

Bom seria saber o que pensava disto o amigo estrangeiro, que, em sua economia emocional, nem esbanjava risos e bom humor, nem entesourava rancores e tristezas, mas administrava com parcimônia seus sentimentos, sem estampar o sorriso imbecil, nem o viso sombrio, por qualquer razão menor.

Para Bergson, o riso tem um significado social e manifesta-se quando é muita a inteligência e pouca a emoção. Suponha a representação de uma peça teatral: "para o espectador, o que veio à tona foi a imagem do homem que tropeça e cai e, por isto, é motivo de riso, porque, por momentos, perdeu toda a sua compostura". É então quando nenhum dos sentimentos impedirá a explosão de riso. A imagem, o corpo do homem que cai, de forma mecânica, não expressa o sentimento, o dano físico. "...será sempre motivo de riso um orador cujas mais belas frases sejam entrecortadas pela dor de um dente estragado. De onde vem o cômico desta situação? De a nossa atenção ser bruscamente reconduzida da alma para o corpo" (Bergson, em O Riso, 1899).

Gabriele Bretzke lembra C. S. Lewis que, "com insuperável sutileza, mostra o caráter problemático que há no humor que se alimenta de zombaria e escárnio, e não da verdadeira e desinteressada alegria". O riso deve ser, pois, alegre como o das crianças, quando riem com gosto do palhaço que sofre quedas, leva chutes, toma bordoadas, assusta-se com um estrondo, cai na esparrela que outros armam e que se vinga com astúcia, que é o que os pequenos espectadores esperam dele. Por outro lado, o riso sardônico, forçado, sem graça, malvado, debochado, constrangedor, obsceno e triste, é o riso de quem tudo sabe sobre a qualidade da sociedade em que vive e, daí, se sujeita a ouvir aquela pergunta definitiva, escandida: "Es-tá-rin-do-de-quê?"

Era com bom humor e inteligência que o maior promotor de alegria do século XX, o Carlitos — que foi, seguramente, a face mais amada de Charles Chaplin — exercia sua arte. O personagem lendário, sempre vítima, perdedor, de andar mecânico, único e por si só hilariante, raramente sorri, e quando o faz, congela-se num ricto de prazer por uma pequena vingança, de pronto legitimada pela aprovação do público.

E, para encerrar, embora todos saibamos que este não é o melhor dos mundos possíveis e tenhamos poucas oportunidades para exercitar nosso senso de humor, vale esta sábia e consistente afirmação de Renato Janine Ribeiro: "O riso não precisa ser idiota".

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