Campus de Cornélio Procópio
Cornélio Procópio, 2 de setembro de 2022
Homenagem:
Os fundadores da imprensa procopense (I)
A vocação dos Villas Bôas, uma família pioneira

Falar sobre os fundadores da imprensa de Cornélio Procópio é falar de suas personalidades, é falar de quem fez história e de quem escreveu a história. Falar da história é falar dos fatos notáveis ocorridos e que mereceram registros. Falar da imprensa é falar da nobre missão de escrever história e de ser a alavanca que impulsiona e sustenta a base do progresso de uma comunidade.

Hoje, enquanto o município de Cornélio Procópio vê passar 84 anos após sua emancipação político-administrativa, a imprensa procopense marca 78 anos do surgimento de "A Tribuna", seu primeiro jornal. A cidade, que não passava de um vilarejo que foi se formando à beira da estrada de ferro, hoje se destaca como centro polarizador de atividades econômicas e culturais dentre os municípios paranaenses, e uma das mais equipadas em serviços públicos de todo o Estado, mormente pela ação conjunta de seu povo e lideranças.

Cornélio Procópio surgiu à margem da ferrovia, da estação do Km 125, mas cresceu em vertiginosa velocidade

Cornélio Procópio surgiu à margem da ferrovia, da estação do Km 125, mas cresceu em vertiginosa velocidade com as sucessivas ondas de pioneiros.

A imprensa, por sua vez, manteve sua palavra viva, empreendendo um trabalho eficaz, fazendo e escrevendo a memória da cidade, e fincando raízes profundas nestas terras vermelhas, desse modo promovendo e incentivando o desenvolvimento do Norte do Paraná.

Em 1938, foi criado o município de Cornélio Procópio, tirando seu nome da estação do Km 125 da Companhia Ferroviária São Paulo-Paraná, que fora inaugurada em fins de 1930. Quatro anos após a instalação do município, aqui aportou a família Villas Bôas, capitaneada pelo saudoso cidadão Antônio Manoel Villas Bôas, cidadão de larga experiência no jornalismo interiorano e que, juntamente com seu filho Nicolau, funda a imprensa procopense. Iniciaram essa atividade visando informar, divulgar, registrar a história e promover o desenvolvimento da cidade. E esta missão de servir à comunidade vem sendo cumprida com muito empenho e dedicação ao longo dos anos, por todos os órgãos de comunicação aqui radicados.

Praça Brasil, com a primeira igreja da cidade, em 1935, na saída da missa dominical (Acervo: Família Mashni)

O grande futuro de Cornélio Procópio se descortinava vibrante com a ousadia de seu povo desbravador. Praça Brasil, em 1935.

Quem foi Antônio Manoel Villas Bôas

Antônio (Manoel) Villas Bôas foi o cidadão altruísta que aqui aportou, trazendo seu pioneirismo, seu entusiasmo e o de seus familiares na árdua tarefa de ajudar a construir a memória de um povo, a memória de uma cidade.

Nasceu em 27 de maio de 1892, na Freguesia de Soeira, município de Vinhais, pertencente ao distrito de Bragança, sub-região de Alto Trás-os-Montes, região norte de Portugal, filho de Antônio Villas Bôas e Inês de Jesus Villas Bôas, que vieram para o Brasil, em 1893, de Trás-os-Montes, na divisa com a Espanha. Ele naturalizou-se brasileiro em Batatais, no estado de São Paulo, sendo registrado como Antônio Manoel Villas Bôas.

Seu Antônio, como era chamado, casou-se em 11 de dezembro de 1913, em Monte Alto, estado de São Paulo, com Hermida Bérgamo, nascida em Ribeirão Preto, SP, e filha dos italianos José Nicolau Bérgamo e Maria José Alário Bérgamo.

Sua história de militante na imprensa interiorana remonta aos idos de 1922, fundando vários órgãos de imprensa nas cidades paulistas de Monte Alto e Taquaritinga, após perceber a necessidade de divulgar, noticiar e promover seu desenvolvimento. E daí em diante não parou mais, mesmo quando se mudou com a família para Cornélio Procópio.

A vocação para o mister jornalístico, o idealismo inconteste e o grande desejo de servir à comunidade, fez com que, nem bem estivessem instalados, Antônio Villas Bôas e seu filho Nicolau idealizassem um órgão de imprensa escrita, o jornal "A Tribuna".

Também foi proprietário da Tipografia Santo Antônio, onde confeccionava impressos e carimbos, comercializava folhinhas e imprimia seu jornal, e da Papelaria Santa Rita, especializada em materiais de papelaria e livraria, discos, fogos de artifício, vidros planos, quadros e miudezas em geral.

Vista parcial da Av. XV de Novembro, em 1941, mostrando a poeira levantada pela passagem do automóvel

Vista parcial da Av. XV de Novembro, em 1941, mostrando a poeira levantada pela passagem do automóvel já quase na linha férrea. A Papelaria Santa Rita viria a estabelecer-se praticamente defronte a primeira casa à direita.

Antônio Villas Bôas – o fundador da imprensa procopense – também foi conhecido como "Antônio Fogueteiro", pois era amante das festas juninas, comemorando principalmente a de Santo Antônio, quando a meninada se reunia defronte a "Santa Rita" (Papelaria), aguardando ansiosamente, para assistir o deslumbrante festival de pirotecnia que realizava todo ano em homenagem a seu santo onomástico.

Comunitariamente, além de participar ativamente de todos os empreendimentos da cidade, foi sócio-fundador do Aeroclube de Cornélio Procópio e também líder do PTB – Partido Trabalhista Brasileiro – da época getulista. Mais tarde, por também ser amante da natureza, foi cognominado "O protetor das andorinhas".

Antônio Manoel Villas Bôas foi sócio fundador do Aero Clube de Cornélio Procópio.

Antônio Manoel Villas Bôas foi sócio fundador do Aero Clube de Cornélio Procópio, atestada por sua carteirinha, endossada pelo presidente do clube, Dr. Oscar Dantas, em 5 de agosto de 1944.

Seu Antônio faleceu em 1º de setembro de 1957, enquanto assistia ao filme "O Manto Sagrado", no Cine Avenida (depois Cine Cornélio), um dos principais pontos de encontro da sociedade procopense, vitimado por um ataque fulminante do coração. Somente quando os espectadores deixavam o recinto, seu passamento foi percebido pelo garoto Darlan Buissa, que imediatamente avisou os responsáveis pelo cinema.

O Cine Avenida, um dos principais pontos de encontro da sociedade procopense, faz fundo para o desfile de 7 de Setembro, na década de 1950

O Cine Avenida, um dos principais pontos de encontro da sociedade procopense (onde Seu Antônio faleceu), faz fundo para o desfile de 7 de Setembro, na década de 1950.

Continua numa próxima postagem, quando daremos sequência à saga da família e vamos conhecer a trajetória jornalística de Antônio Manoel Villas Bôas na imprensa interiorana.

Baseado em texto de
Antônio Villas Bôas Neto

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