Os fundadores da imprensa procopense (III)
A vocação dos Villas Bôas, uma família pioneira
A década de 1950 viu surgir dois novos órgãos informativos: os jornais "A Cidade de Cornélio Procópio" – conhecidíssimo apenas por "A Cidade" – e "A Voz do Povo", semanários que muito contribuiram para o desenvolvimento da cidade e a formação cívica de seus cidadãos.

Cornélio Procópio em 1950, vendo-se, ao fundo, a igreja matriz Cristo Rei ainda em construção (Acervo: Naila Arrebola).
NICOLAU VILLAS BÔAS - A GERAÇÃO SEGUINTE NA IMPRENSA
"A CIDADE" – Menos de um ano após ter-se afastado da imprensa local, quando "A Tribuna" foi vendida, não resistindo a sua forte vocação jornalística, em 1º de janeiro de 1950, Nicolau funda "A Cidade de C. Procópio". Além do próprio Nicolau, eram seus redatores na época o professor Aquiles Pereira Salerno, Antônio Brunetti, Fábio Pinheiro, Gastão de Alencar, Pavo de Almeida, Salomão de Oliveira Lomônaco, Henrique Müller e Luiz Villas Bôas, a quem Nicolau passou a direção em 1953. O jornal era publicado semanalmente, saindo no fim de semana, e ansiosamente aguardado por seus inúmeros assinantes.

Em 25 de outubro de 1942, é criado o jornal A Tribuna de Cornélio Procópio, o primeiro noticioso da cidade (Exemplar do assinante farmacêutico Benedito Dias Guimarães).

A velha, mas eficiente, impressora Nebiolo foi usada para a impressão dos jornais da família Villas Bôas; na foto, o impressor Maurício Teodoro.
"A Cidade" seguiu informando pontualmente a população, mas com outra direção de 1959 a 1962, quando foi seu diretor-proprietário o jornalista João Gonçalves de Oliveira, casado com uma das filhas de Nicolau. Em 1962, o jornal foi adquirido por Bruno Jordão, e passou a ser dirigido por ele e sua família.
"A VOZ DO POVO" – Em 14 de julho de 1952, fundado pelo Diretório do PSD – Partido Social Democrata – é criado o jornal "A Voz do Povo" – O Fiel Intérprete da Soberana Vontade Popular –, impresso pela Gráfica Procopense Ltda., tendo como Diretor-Gerente Cássio Leite Machado, literato e poeta, e Ítalo Fioravante como Diretor Superintendente. Funcionou na Av. XV de Novembro, 435. Foram seus diretores em breves períodos, por orientação do partido: Damasco Adão Sottile, Ítalo Fioravanti, Cândido Batista de Souza (Candinho), Henrique Müller e Mário Lamberti.
O ano de 1958 assistiu o retorno de Nicolau Villas Bôas às lides jornalísticas como diretor comercial de "A Voz do Povo" (ainda do PSD), mas vindo a dirigi-lo definitivamente, como responsável e proprietário, em 1963. Nicolau teve a seu lado, como redator, seu filho Antônio Villas Bôas Neto, de 1973 até 1993, quando este mudou-se para Curitiba, e o genro, João Gonçalves de Oliveira, como colunista. A partir de 1994, seu neto Wagner Gonçalves de Oliveira assumiu a direção do jornal.

Antônio Vilas Bôas Neto e Nicolau Villas Bôas, filho e pai, unidos por laços familiares e pelo desejo de servir do melhor modo possível à comunidade, trabalharam à sombra de um gigante da imprensa interiorana: Antônio Villas Boas.
Desde sua fundação, "A Voz do Povo" teve diversos colaboradores, com destaque para Henrique Müller, advogado João Gonçalves de Oliveira, os irmãos Ademar e Antônio Villas Bôas Neto, Antônio Silveira Brasil (pai), advogado e professor Rames Kalluf, Vera Lúcia Mariucci, Gino Azzolini Neto e Elias José Neto (cronistas sociais); professores Átila Silveira Brasil (autor do livro "C. Procópio, das Origens e da Emancipação do Município", em 1988), João Carlos Rocha Loures, Ananias Antônio Martins, Antônio Pereira do Bonfim, Francisco Carlos Petrus, médico Reginaldo Perissé da Silva, jornalistas Ataíde Cuqui e Walter Oricolli, Milton Vieira da Silva, Jaime Camacho e Joni Silva Correia (esportes), Paulo Ribeiro Dias, Sinibaldo Recanello, João Athayde de Paula, Jean Meleck, Helenita Prevedello, Emir dos Santos Macedo e tantos outros.
"A Voz do Povo" sempre teve grande penetração nas cidades que compõe a microrregião que tem Cornélio como município polo.
O jornal recebeu muitos títulos, entre eles o de "Sentinela da Comunidade" como um dos melhores periódicos de 1972, menção outorgada pela "Tribuna do Interior" de São Paulo, sob a direção do jornalista Urbano Cordeiro, ferrenho defensor do municipalismo brasileiro. Participando de exposições de jornais do interior do Brasil, "A Voz do Povo" recebeu também menções de mérito e troféus, tanto na cidade paulista de Pindamonhangaba como em Alagoinhas, na Bahia.
"A Voz do Povo" conquistou o maior patrimônio que um órgão de imprensa pode almejar: a credibilidade de todos os segmentos da sociedade, urbana e rural.

"A Voz do Povo" conquistou o maior patrimônio que um órgão de imprensa pode almejar: a credibilidade de todos os segmentos da sociedade.
UMA VIDA INDISSOCIADA DO JORNALISMO
Como mencionado, em 25 de outubro de 1942, era fundado o primeiro jornal de Cornélio. E nesta página da história está inscrito também o nome de Nicolau Villas Bôas, filho de Seu Antônio.
Nicolau nasceu em 22 de agosto de 1918, em Monte Alto, estado de São Paulo. Casou-se em 8 de fevereiro de 1942, nessa cidade, com Izaltina Brambilla.
Aos sete anos de idade, ingressou na tipografia de seu pai em Monte Alto, como ajudante na confecção de impressos comerciais, na revista "A Nota" e nos jornais "O Pharol" e "A Semana" até o ano de 1936. Em 1930 e 1932, quando aconteceram as revoluções Getulista e Constitucionalista, respectivamente, assumiu sozinho o funcionamento da gráfica, pois os demais tipógrafos foram convocados a integrar esses movimentos revolucionários. Com a mudança da família para a vizinha cidade de Taquaritinga, em 1936, passou a colaborar com o jornal "A Tribuna", de propriedade de seu pai, até meados de 1942.
Em 1943, como reservista de 2ª Categoria, desde 1937, participou de treinamento na C.M.1 do 20º Regimento de Infantaria, em Curitiba, por ocasião da Segunda Guerra Mundial.
Comunitariamente, foi bastante atuante, tendo sido membro da comissão que evitou a mudança do nome de Cornélio Procópio para Monte Castelo, em 1946, após o término da guerra. Foi sócio fundador e membro do Conselho Consultivo e da Comissão de Propaganda da primeira diretoria da Santa Casa de Misericórdia de C. Procópio, sob a provedoria de Júlio Mariucci, iniciada no final daquele ano. Foi um dos primeiros maçons iniciados em Cornélio Procópio; fundador da Loja Maçônica Quintino Bocaiúva III, em novembro de 1948, e membro de sua primeira diretoria.
Sem abandonar sua condição de jornalista, foi eleito vereador pelo PSP – Partido Social Progressista, prestando sua colaboração ao serviço público nos anos de 1951 e 52.

Nicolau Villas Bôas foi atuante vereador na Câmara Municipal de Cornélio Procópio.
Foi membro fundador do Clube Operário e Recreativo de C. Procópio; um dos fundadores e líder do antigo PTB – Partido Trabalhista Brasileiro –, desta cidade; editor do primeiro Boletim Oficial da Prefeitura, que era confeccionado no jornal "A Tribuna", de sua propriedade; fundador das agremiações esportivas "Esporte Clube Comercial" e "Independência", desempenhando a função de secretário. Participou como tesoureiro da comissão que realizou a primeira quermesse em prol da construção da Catedral "Cristo Rei". Foi fundador do Country Club de C. Procópio - em 15 de fevereiro de 1952, gestão Benedito Cassilha de Oliveira (O médico Oscar Dantas fora eleito presidente, mas por motivos particulares não pode assumir).
Em 11 de agosto de 1977, a Câmara Municipal de C. Procópio concedeu-lhe o título de Cidadão Honorário, por lei sancionada pelo prefeito Oswaldo Trevisan. Nicolau Villas Bôas foi suficientemente humilde para rejeitar esse título, embora fosse um verdadeiro Cidadão Procopense por seu amor a esta terra.
Deu integral apoio a seu filho Antônio Villas Bôas Neto (Toninho) na realização de cinco mostras culturais e nos movimentos de fundação do Grupo Ecológico "Vida Verde" e de preservação da mata São Francisco, hoje Parque Estadual "Mata São Francisco".
Durante um feliz casamento de quase 65 anos, Seu Nicolau e a professora Izaltina tiveram quatro filhos: Margarida Maria, Darci Hermida, Antônio, e Ademar José.
Nicolau Villas Bôas faleceu em 11 de janeiro de 2007, com 88 anos de uma vida ativa e muito bem vivida.
O JORNALISTA
Nicolau Villas Bôas recebeu diversos prêmios municipais e estaduais. Destaques para o "Troféu Imprensa Arthur Hoffig", como Personalidade Jornalística de 1975, conferido pelo Lions Club, recebido das mãos do ator Tony Ramos, e o de Honra ao Mérito, na classificação Jornalismo, durante a 1ª Mostra Cultural Procopense A Voz do Povo-Rotary Club de C. Procópio, em 1987.

Nicolau Villas Boas homenageado com o trofeu de "Personalidade do Ano", de 1975, pelo Lions Club.

Nicolau, rodeado pela família, recebeu o Trofeu de Honra ao Mérito conferido ao jornal A Voz do Povo, na classificação Jornalismo, na 1ª Mostra Cultural Procopense, em 1987.
Foi membro efetivo da Associação Paranaense de Imprensa desde 1942; membro-fundador da Associação dos Profissionais de Imprensa de São Paulo, cadastrado desde 1969, e no triênio 1972-1975 pertenceu à diretoria no cargo de Conselheiro Deliberativo.
Diretor e redator de "A Semana", de Monte Alto, de "A Tribuna", de Taquaritinga, de "A Tribuna", de Cornélio Procópio, de "A Cidade de Cornélio Procópio" e de "A Voz do Povo".
A FAMÍLIA VILLAS BÔAS
Este foi um breve resumo das inúmeras atividades realizadas pela família Villas Bôas, especialmente em Cornélio Procópio, a cidade que definitivamente adotaram como sua desde quando chegaram no longínquo ano de 1942. Nesta ano em que comemoramos o centenário da criação do primeiro jornal dessa ilustre família, "A Nota" (Monte Alto, SP), os 80 anos da chegada em Cornélio Procópio, e 70 anos da fundação do jornal "A Voz do Povo", nada mais justo do que esta pequena homenagem da UENP-CCP pela inestimável participação no progresso desta metrópole, ocasião em que só podemos lhes consignar os merecidos agradecimentos de toda a comunidade: Muito obrigado, família Villas Boas!
Baseado em texto de
Antônio Villas Bôas Neto
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