Visite a História (I)
Em 1972, há cinquenta anos, a revista Quatro Rodas publicou uma edição especial, que se chamou "Visite a Nossa História", em que contava fatos históricos, fartamento ilustrados, e trazia um roteiro turístico para o leitor conhecer os locais onde eles aconteceram. Eram nove roteiros muito interessantes, a saber: Guerras da Independência, Descobrimento, República Juliana, Invasão Holandesa, Independência, Inconfidência, Império, Anchieta e Missões. Acompanhava a edição um mapa do Brasil com os roteiros demarcados, e mapas detalhados de cada roteiro específico. Uma edição realmente muito bem feita, mas lembrem-se que muita coisa mudou de 1972 para hoje. Temos estradas diferentes e melhores, e há muitas informações turísticas que podem ser encontradas na Internet.
Vamos conhecer esses fatos históricos de um ponto de vista um tantinho diferente do habitual, pois vamos vê-los do ponto de vista dos ambientes onde ocorreram. Nosso começo é o roteiro das andanças de São José de Anchieta (1534-1597), o Apóstolo do Brasil.
De Santos a Vitória, o caminho de Anchieta


O roteiro percorre o litoral paulista, fluminense e capixaba, até Vitória, no Espírito Santo. Por meio dele, você conhecerá algumas das mais belas praias brasileiras, por onde andou o jesuíta José de Anchieta. (Não se esqueça: os dados são de 1972, e tudo mudou)
José de Anchieta chegou ao Brasil com dezenove anos e até sua morte, 44 anos depois, fez viagens sem conta, a pé ou de barco, por esses litorais que hoje você poderá percorrer sem cansaço, experimentando o encanto de paisagens que o passar dos séculos conservou quase tão belas como em seu tempo.
Talvez ainda corra um pouco de sangue tupi nas veias dos caiçaras que habitam esse litoral paulista fluminense e capixaba. Mas os cantos de guerra dos seus possíveis antepassados já se perderam na distância dos séculos e a sombra ameaçadora do gigantesco cacique Cunhambebe – chefe da Confederação dos Tamoios – sobrevive apenas nos livros de história. São poucas também as marcas da passagem, por essas terras e esses mares, de um missionário pequeno e corcunda chamado José de Anchieta; e, onde nenhuma pedra e nenhum documento restaram como testemunho de seu trabalho de quase meio século de evangelização, cresceram as lendas perpetuando sua imagem. Porém, quatro séculos depois, ainda se podem encontrar, nesse litoral entre Itanhaém – perto de Santos – e Vitória do Espírito Santo, trechos enormes de praia branca quase tão selvagem como naquele tempo, enseadas escondidas entre rochedos e matas, ilhas verdes num mar transparente e ensolarado, caminhos que Anchieta fez, consolidando incansavelmente a presença portuguesa em terras brasileiras.

A praia de Iperoig (atual praia do Cruzeiro) fica no centro de Ubatuba. (Fonte: Viagens e Caminhos)
São esses caminhos que você poderá seguir agora como turista, revivendo as andanças de Anchieta por essas paisagens que continuam belas, embora sua pureza tenha sido sacrificada para lhe assegurar conforto, permitindo, por exemplo, que em poucos dias de férias você percorra, de automóvel, as distâncias em que o jesuíta consumiu 44 anos de sua vida, viajando a pé e de barco.
Uma viagem pelo litoral, entre Itanhaém, em São Paulo, e Vitória, no Espírito Santo, poderá revelar hoje não apenas a maior parte dos caminhos percorridos pelo padre Anchieta em suas andanças de pacificação e catequese, como também explicar o amor do missionário jesuíta por essas terras que ele conheceu selvagens: não perderam o encanto as paisagens que se renovam desde as praias de areia dura e o mar verde-acinzentado do litoral paulista, até as areias macias e as águas azuis das costas capixabas. É uma viagem facilitada pelo asfalto na maior parte do percurso e, em alguns trechos a estrada é a própria praia.
O pacificador - Quando, em 1553, o padre Manuel da Nóbrega, provincial da Bahia, recebeu um grupo de sete jesuítas trazidos de Portugal pelo novo governador-geral Duarte da Costa, dificilmente terá tido muito boa impressão inicial do noviço José de Anchieta, um rapaz franzino e corcunda de dezenove anos, que ainda falava com o sotaque espanhol das ilhas Canárias, onde nascera. Nóbrega não poderia prever que naquele momento a história do Brasil começaria a ser mudada por aquele frágil noviço, que logo se revelaria o mais intransigente e dedicado dos missionários, evangelizando milhares de índios e "amparando com as costas deslocadas a hegemonia de Portugal nas terras de Santa Cruz", como escreveu o historiador Brasílio Machado.
O trabalho de Anchieta não só surpreendeu como entusiasmou Nóbrega, que poucos meses após a chegada dele na Bahia levou-o para a capitania de São Vicente, que na época estava sendo ameaçada pela hostilidade dos tamoios. Um grupo de jesuítas chefiados pelo padre Manuel de Paiva e do qual participava Anchieta escolheu, no planalto paulista, uma colina (situada entre os rios Tamanduateí e Anhangabaú) onde, em 25 de janeiro de 1554, foi fundado o Colégio de Piratininga, marcando o início da povoação que se transformaria mais tarde na maior cidade do país, São Paulo.

O Colégio de Piratininga foi fundado pelos padres jesuítas José de Anchieta e Manoel de Paiva, em janeiro de 1554, e deu origem a São Paulo, a maior cidade do país.
O colégio logo se tornou um centro de aglutinação dos índios já convertidos ao catolicismo, permitindo também ao jovem Anchieta aprender rapidamente o idioma indígena e exercitar seu talento de mediador, intervindo em questões entre os portugueses e os índios.
Se ele era um intransigente na pregação de sua fé, mostrou também habilidades indiscutíveis de diplomata. Após sucessivos ataques dos tamoios chefiados por Cunhambebe, os jesuítas passaram a insistir com os fazendeiros e colonos portugueses para que limitassem o tráfico de escravos aos prisioneiros feitos em guerras justas, o que não vinha sendo obedecido por muitos portugueses tentados pela facilidade em escravizar mão de obra. Entretanto, sentindo crescer a ameaça de uma derrota total diante dos guerreiros de Cunhambebe, perceberam a necessidade urgente de negociar uma paz. Os caciques confederados já haviam reunido suas forças para o assalto final em que massacrariam os brancos, quando Nóbrega e Anchieta foram tentar convencê-los a aceitar a paz. Sua missão seria facilitada pela morte de Cunhambebe, que detestava os portugueses e se orgulhava de dizer que já havia devorado centenas deles. Os dois jesuítas esperavam que Aimberé, sucessor de Cunhambebe, fosse menos belicoso e mais fácil de convencer.

Hans Staden na aldeia dos antropófagos tupinambás (à esquerda) e Cunhambebe, ilustrado por André Thevet, que acompanhou a expedição do invasor francês Villegaignon.
As negociações com os tamoios e seu novo cacique foram feitas em Iperoig (hoje uma praia de Ubatuba, no litoral paulista), numa aldeia tupinambá cujo cacique era o velho Coaquira. Anchieta já salvara Coaquira de uma grave doença numa de suas andanças anteriores, nas quais sempre levava remédios para os índios, facilitando com isso seu trabalho de aproximação.
A caminho de Iperoig, Nóbrega e Anchieta uniram-se ao genovês José Adorno, que iria de Bertioga ao Rio, para tentar uma paz em separado com os franceses que viviam ali. Mas quem acompanharia os padres à aldeia de Coaquira seria um pedreiro, Antônio Dias, que esperava resgatar dos índios sua família, desaparecida tempos antes.
Ao chegarem à aldeia não encontraram Coaquira, mas Anchieta logo ganhou a confiança dos índios ao medicar os feridos nas lutas contra os portugueses.
Assim, os jesuítas conseguiram criar um clima favorável para o início de suas negociações com os chefes tamoios, entre os quais estavam o filho de Cunhambebe e Aimberé. Eles aceitaram fazer a paz com os portugueses, desde que estes libertassem todos os tamoios aprisionados e lhes entregassem os índios que haviam traído a Confederação e aderido aos brancos, entre os quais Tibiriçá. Nóbrega e Anchieta disseram achar justas as condições exigidas, mas teriam de submetê-Ias ao governo da capitania. Propuseram então que um dos caciques os acompanhasse a São Vicente, para negociar. Aimberê concordou em ir, mas os padres e o pedreiro ficariam como reféns em Iperoig, até a sua volta.
Nóbrega foi autorizado a deixar a aldeia antes que os portugueses libertassem os tamoios escravos, mas Anchieta foi mantido como refém até que Aimberê voltasse com os índios libertados. Ao despedir-se de Coaquira e do filho de Cunhambebe, que o haviam acompanhado a Piratininga, Anchieta lhes assegurou que o acordo de paz nunca seria desrespeitado pelos portugueses. Isso, entretanto, logo seria desmentido pelos fatos: os colonos portugueses voltaram a aprisionar índios para usar como escravos, a princípio em ações isoladas e mais tarde em escala maior. Nessa altura, porém, as habilidades diplomáticas de Nóbrega e Anchieta já estavam sendo usadas em outros lugares.

Itanhaém – Inicialmente, foi construída uma pequena capela no alto do morro do Itaguaçu, dedicada a Nossa Senhora da Conceição, em 1532, mesmo ano da fundação Vila Conceição de Itanhaém. A construção do atual prédio começou em 1699.
Estácio de Sá chegara ao Rio, com tropas trazidas da Bahia e do Espírito Santo. Decidiu então convocar o padre Nóbrega, que partiu de Bertioga acompanhado pelo irmão Anchieta. E o trabalho de pacificação dos dois jesuítas foi decisivo para manter o apoio dos temiminós chefiados por Araribóia aos portugueses, que terminaram por fundar a cidade do Rio de Janeiro, provavelmente a 1º de março de 1565. Mas, apesar da fundação do povoado, os portugueses não conseguiam desalojar os tamoios da região. Os índios continuaram resistindo por mais de dois anos, tornando novamente imprescindível o papel de Anchieta.
Como ele teria de ir à Bahia para ser ordenado padre pelo bispo dom Pedro Leitão, foi encarregado de obter do governador-geral Mem de Sá ajuda para os portugueses do Rio. Nessa viagem para a Bahia, Anchieta ainda encontrou tempo para visitar missões e aldeias do Espírito Santo.
E sua missão junto a Mem de Sã foi um êxito completo: no dia 19 de janeiro de 1567, ele desembarcava de volta no Rio, acompanhando o próprio governador, que trouxera uma frota de três galeões, seis caravelões e dois navios menores.
O educador - Nos dez anos seguintes, até 1577, Anchieta se dedicou inteiramente à missão de educar os índios recém-convertidos, preparando para eles autos religiosos em tupi-guarani. Nessa mesma época, foi reitor do Colégio de São Vicente e das casas de Santos e São Paulo, tendo sido mais tarde nomeado provincial do Brasil. É também dessa fase a maior parte de sua produção literária. Como provincial da ordem manteve-se até 1588, tendo feito nessa função vinte ou mais viagens por mar. Fundou então as aldeias de Reritiba, Guarapari e Reis Magos (no Espírito Santo), São Barnabé e São Lourenço (no Estado do Rio), Barueri e Guarulhos (em São Paulo).
Após deixar a cargo de provincial, Anchieta foi para o Espírito Santo, onde se tornou superior da Residência de São Tiago e de suas aldeias. Em 1592, voltou novamente à Bahia, seguindo depois para São Paulo e Rio de Janeiro, onde durante dois anos percorreu as casas jesuítas. De volta ao Espírito Santo, assumiu o cargo de superior da ordem em Vitória. Em 1596, já com a saúde abalada, foi-lhe permitido escolher para onde ir, voltando então a Reritiba (atual Anchieta), onde se dedicou a escrever poemas e a ensinar aos índios. Uma melhora passageira levou-o de novo a Vitória, onde reassumiu o cargo de superior. Mas logo adoeceu outra vez e, depois de descansar algum tempo na fazenda de seu amigo Miguel de Azeredo, capitão-mor, pediu que o levassem para Reritiba, onde morreu a 9 de junho de 1597.

Bertoga – Forte de São João, também chamado Forte de São Tiago, construído em 1560 – Foi de Bertioga que Anchieta partiu com Nóbrega para negociar o tratado de paz com os chefes tamoios. Diante do forte, na ilha de Santo Amaro, estão as ruínas muito deterioradas da fortaleza de São Luiz, subsistem apenas as bases das guaritas, muros e pisos em pedras.
O autor de milagres - A partir de sua morte, começariam a ganhar força as histórias que o apontavam como santo. Contavam, por exemplo, que Anchieta tivera o dom de amansar subitamente os animais mais ferozes e uma das lendas a seu respeito dizia que, em uma de suas viagens pelo mar, um bando de aves sobrevoou todo o tempo o barco em que estava, para protegê-lo do rigor do sol. Estava começando a longa luta de muitos católicos brasileiros para obter a canonização de José de Anchieta, que em vida foi assim descrito por Simão de Vasconcelos:
"Foi o padre Joseph de Anchieta de estatura medíocre, diminuto de carnes, de espírito robusto, em cor trigueiro, os olhos parte azulados, testa larga, nariz comprido, barba rara, mas no semblante inteiro, alegre e amável".
O roteiro de Anchieta - Uma viagem pelo litoral, entre Itanhaém, em São Paulo, e Vitória, no Espírito Santo, poderá revelar hoje não apenas a maior parte dos caminhos percorridos pelo padre Anchieta em suas andanças de pacificação e catequese, como também explicar o amor do missionário jesuíta por essas terras que ele conheceu selvagens: não perderam o encanto as paisagens que se renovam desde as praias de areia dura e o mar verde-acinzentado do litoral paulista, até as areias macias e as águas azuis das costas capixabas. É uma viagem facilitada pelo asfalto na maior parte do percurso e, em alguns trechos a estrada é a própria praia.
Ao longo desse roteiro há bons hotéis e comida muito gostosa em restaurantes de diversas categorias. E a cada dia aparecerão oportunidades de esticadas pelos arredores das cidades que ainda guardam marcas da passagem de Anchieta.
Comece em Itanhaém, ao sul de Santos, onde você encontrará, no costão de Pernambuco, entre as praias do Sonho e das Conchas, a Cama de Anchieta, uma laje comprida, que outra laje defende do sol. Diz a lenda que Anchieta costumava deitar-se ali, para descansar. Um pouco adiante, a praia do Poço, tem o poço de Anchieta, com água do qual ele teria se banhado. E ali perto, no morro do Itaguaçu, está o Convento de Nossa Senhora da Conceição, onde se encontra a imagem de Nossa Senhora dos Anjos (sempre chamada no Brasil de Nossa Senhora da Conceição), muito venerada por Anchieta.

Capela de São Gonçalo, em São Sebastião, SP – Construída no séc. XVII, acredita-se que seja fruto da devoção de leigos. A construção de pedra assentada sobre o barro, embora de pequenas dimensões, é um importante exemplar da arquitetura religiosa da época colonial.
Em São Vicente (cidade gêmea de Santos), etapa seguinte deste roteiro, não há marcas do tempo de Anchieta, embora ele tenha vivido e trabalhado bastante na região. Mas em Bertioga, onde você chegará depois de passar por Santos e Guarujá, há lembranças do missionário jesuíta e de sua época que não devem deixar de ser visitadas, a começar pelo Museu João Ramalho, instalado no antigo forte São João Batista. Foi de Bertioga que Anchieta partiu com Nóbrega para negociar o tratado de paz com os chefes tamoios. Diante do forte, na ilha de Santo Amaro, estão as ruínas do forte São Filipe, onde foi artilheiro outro per-sonagem importante do primeiro século de nossa história - o aventureiro alemão Hans Staden. Há ali ainda as ruínas da igreja Santo Antônio do Guaibe, construída pelo genovês José Adorno, um senhor de engenho que colaborou na missão pacificadora dos jesuítas.

Poderia Anchieta alguma vez pensar que sua amada Companhia de Jesus seria expulsa dos Reinos de Portugal? Em 1798, com a expulsão dos jesuítas, a igreja e o colégio São Tiago são confiscados e recebem o nome de Palácio do Governo, sendo a fachada modificada posteriormente. Somente em 1945 sua denominação é alterada para Palácio Anchieta. A construção fica em Vitória, ES.

Túmulo de São José de Anchieta no Palácio Anchieta, que era, anteriormente, a Igreja de São Tiago, em Vitória, ES. Anchieta morreu em 1597 e foi enterrado no altar principal da igreja.
Os poemas na areia - De Bertioga a São Sebastião, você passará por muitas praias, algumas delas ainda selvagens. É nesse trecho que as areias das praias servem de estrada em alguns pontos.
Em São Sebastião, os casarões coloniais são posteriores à epoca de Anchieta e nem lá, nem em Caraguatatuba - etapa seguinte da viagem - restou sinal algum de Anchieta. Porém, 53 quilômetros adiante de Caraguatatuba, você conhecerá Ubatuba, que no tempo das guerras com os tamoios se chamava Iperoig e onde Anchieta Ficou algum tempo como refém dos caciques confederados. Numa das praias de Ubatuba - a de Iperoig ou do Cruzeiro há hoje um cruzeiro de madeira que marca o local onde - segundo a tradição - Anchieta teria escrito na areia, para decorá-lo mais facilmente, seu "Poema à Virgem".

Foi nas areias da Praia de Iperoig (ou do Cruzeiro, em Ubatuba, SP) que o apóstolo do Brasil, Pe. José de Anchieta, escreveu os versos em latim do "Poema à Virgem Maria", quando estava prisioneiro, como refém, dos índios tamoios. Iperoig é uma palavra da língua tupi antiga que significa "rio dos tubarões" (iperó, tubarão, e y, rio).
Depois de Ubatuba e já no litoral fluminense você encontrará Parati, com sua arquitetura dos séculos XVII e XVIII e sua atmosfera repousante e simples. Não há noticia de que Anchieta tenha alguma vez passado por lá, mas você, fazendo isso agora, sentirá dificuldade em resistir à tentação de se deixar ficar passeando pelas ruas tranqüilas que o mar inunda nas marés de lua cheia.
Mas Angra dos Reis está logo em seguida, para provar que valeu a pena prosseguir a viagem. Ali ficava a taba do cacique Cunhambebe, cujo filho, que também se chamava Cunhambebe, se tornou amigo de Anchieta. Não deixe de visitar o Convento do Carmo, construído no fim do século XVI e ainda muito bem conservado. E embora a cidade tenha poucas outras atrações turísticas, nunca será esquecida por quem conhecer suas ilhas, espalhadas em frente ao litoral cortado por baías e rochedos.
Do Rio a Vitória - Embora o padre Anchieta tenha ajudado a fundar a cidade do Rio de Janeiro, é do outro lado da Guanabara, em Niterói, que você encontrará a marca mais importante de sua passagem pela região. Em Niterói está a igreja de São Francisco Xavier, fundada em 1572 pelo jesuíta. Nela é conservado o púlpito de madeira utilizado por Anchieta em suas pregações. [Essa informação, de 1972, está incorreta, pois atualmente sabe-se que a igreja foi construída entre 1622 e 1696, portanto após a morte de Anchieta]
Seguindo viagem, você passará pela lagoa de Araruama, de águas salgadas muito calmas e azuis, e chegará a Cabo Frio, Mas vale a pena fazer um pequeno desvio para conhecer São Pedro da Aldeia, à margem da lagoa, onde os jesuítas, em 1719, construíram a igreja que hoje é a matriz da cidade.
Cabo Frio fica no limite das terras que os tamoios habitavam e foi descoberta em 1503 pelo navegador espanhol Américo Vespúcio [Ele era italiano de Florença]. Desembarcou no lugar que hoje é o Arraial do Cabo e deixou ali uma guarnição de 24 homens para assegurar a posse da terra enquanto ele voltava à Europa com a notícia da descoberta. Mais tarde, os franceses ocuparam a região e construíram lá um forte. Só foram expulsos em 1615, ano em que Cabo Frio foi fundada com o nome de Santa Helena. No ano seguinte, os portugueses construíram o forte de São Mateus, cujas ruínas existem até hoje.

Igreja Nossa Senhora da Assunção, construída por José de Anchieta; o edifício original foi construído em pedra e cal no ano de 1579, em Reritiba (que, em tupy, significa "lugar de muitas ostras"), atual Anchieta, SP.

No pátio interno da Igreja Nossa Senhora da Assunção há um jardim escavado. O lugar, hoje em ruínas, já foi o cemitério de índios, escravos e civis. Durante reforma, entre 1994 e 1997, nas laterais do templo, foram encontrados e removidos para o cemitério 30 esqueletos de padres. O cemitério, o campanário e a sacristia (parte detrás da igreja) foram construídos a partir do século XVIII
Antes de chegar a Anchieta, antiga Reritiba, com suas praias de areia monazítica, você passará por Macaé, onde há belas praias e muitas ilhas. Depois de Macaé, a estrada se afasta do litoral e quando você voltar a ver o mar já estará perto de Anchieta, com seu povo simples e reservado e suas ruas sonolentas. Fundada por José de Anchieta, foi por ele escolhida para ali viver seus últimos dias. Na igreja Nossa Senhora da Conceição, que ainda pertence aos jesuítas, está a cela onde Anchieta morreu e também um pequeno museu com relíquias suas. Foi ele quem construiu a igreja, orientando pessoalmente o trabalho dos índios, que usaram pedras dos recifes, ligadas com argamassa feita com mariscos moídos e óleo de baleia.
No museu, há cartas escritas por Anchieta, sua gramática em tupi-guarani e diversos documentos sobre sua vida. Na cela em que morreu são conservadas as imagens que venerava, uma cadeira e uma pequena mesa que usava para escrever.

No museu, há diversos documentos sobre sua vida. É um museu moderno, com comunicação dinâmica e mais interativa, possibilitando conhecer e dialogar com a história.
Seguindo de Anchieta para Vitória, pelo caminho que os índios fizeram em 1597 para levar o corpo de Anchieta, você encontrará outra cidade fundada por ele: Guarapari, o mais famoso dos balneários radiativos do litoral capixaba. Em Vitória, onde o missionário jesuíta foi sepultado, você poderá visitar seu túmulo, no Palácio Anchieta, sede do governo do Estado. O corpo de Anchieta, porém, já não está ali, pois anos depois de sua morte foi exumado e levado para a Bahia.
Mas a falta de maiores vestigios históricos de Anchieta em Vitória não tornarão menos importante sua visita a essa última etapa do nosso roteiro. A capital do Espírito Santo é uma cidade simpática e alegre, cercada de morros verdes e mar muito azul, com restaurantes típicos onde se comem deliciosas moquecas de peixe.
Fonte do texto:
Revista Quatro Rodas, nº 145-A,
Agosto de 1972
Visitantes: